O objetivo principal deste estudo é analisar de forma clara e coerente, a definição, distinção, atuação, propósito e a importância dos dons espirituais na edificação da Igreja do Senhor Jesus Cristo. Veremos que o Espírito Santo reveste de poder, o crente que busca e se dispõe a realizar a obra do Senhor. Embora os dons sejam repartidos particularmente a cada um, o propósito inegável consiste no aperfeiçoamento da Igreja de Cristo como um todo. A maneira correta de exercer os dons e o propósito de cada um deles na edificação da igreja são pontos de extrema importância na compreensão desta doutrina bíblica.
DEFINIÇÃO E ETIMOLOGIA
Dons Espirituais [Do lat. donum, dádiva, presente + spirituale, relativo ao Espírito] São recursos extraordinários e/ou sobrenaturais disponibilizados pelo Senhor Jesus, que mediante o Espírito Santo reveste o crente de poder, a fim de, edificar e aperfeiçoar a sua Igreja, ampliar o conhecimento e realização da obra e volver a atenção dos incrédulos à realidade divina. São repartidos particularmente a cada um, segundo a vontade soberana do Espírito Santo (I Cor 12.11). São manifestos como função (atividade), onde cada dom tem atuação distinta, porém, com um único propósito (I Cor 12.6-11) e também, como carisma ou virtude (Rm 12.4-8).
Dons Ministeriais [Do lat. donum, dádiva, presente + ministeriu, cargo, serviço] Capacitação extraordinária que o Senhor Jesus Cristo, através do Espírito Santo, disponibiliza a igreja, visando o pleno exercício ministerial.
ASPECTOS FUNDAMENTAIS NO EXERCÍCIO
Para tornar clara a compreensão acerca do propósito e da importância dos dons espirituais, é preciso analisar ponto a ponto os principais aspectos que evidenciam a manifestação dos dons no seio da igreja.
Como se manifestam os dons. As manifestações dos dons espirituais dão-se de acordo com vontade soberana do Espírito, ao surgir a necessidade e ainda, de acordo com o desejo do crente em na busca dos dons (I Cor 12.7,11,31; 14.1).
Entendendo a atuação dos dons. Alguns dons podem operar num crente de modo frequente (regular), ou apenas em ocasiões específicas (esporádicas) que atenda a necessidade e o bem-estar da igreja do Senhor Jesus. Ao crente é possível o exercício de mais de um dom e de acordo com a Palavra, o mesmo deve procurar com zelo os “dons espirituais” (I Cor 12.31; 14.1).
O zelo e o cuidado com o exercício. Pensar que pelo fato de exercer mais de um dom, alguém deva gozar de “privilégios” na igreja ou até mesmo, julgar-se superior a outrem é inaceitável e maligno. O fato de exercer um dom, não coloca ninguém na posição de intocável e nem significa que Deus aprova tudo o que ela faz ou ensina. Os dons devem edificar a todos, e não somente ao indivíduo. Todos nós temos funções diferentes no corpo de Cristo, por isso, precisamos entender o relacionamento com o corpo inteiro, pois cada membro é igualmente importante. Cada um tem a sua função no exercício e atuação corporal (I Cor 12.12-26).
Perigos que interferem a edificação da igreja. O Diabo pode imitar a manifestação dos dons espirituais, assim como também, falsos crentes disfarçados como servos de Deus (Mt 7.21-23; II Cor 11.13-15; I Tm 4.1 cf. II Ts 2.9). Não devemos dar crédito a qualquer manifestação espiritual, mas devemos “provar se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (I Jo 4.1 cf. I Ts 5.20,21).
Relacionando o louvor e a adoração com os dons espirituais. Quando adoramos a Deus em espírito e em verdade, com reverência e temor, vivenciamos um momento único diante dele (Jo 4.24). É nesse ambiente que prodígios e milagres podem facilmente acontecer, a unção é derramada e bênçãos sem medidas fluem nos corações (Ef 5.18-21 cf. Cl 3.16).
Os Dons Espirituais e a oração. Nada substitui o tempo empregado na presença do Senhor. Não existe edificação sem oração, muito menos a manifestação dos dons espirituais (Mt 21.22; Tg 5.16; I Tm 4.5).
DONS ESPIRITUAIS: DISTINÇÃO E ATUAÇÃO
1. Como funções. Em relação à manifestação dos dons como atividades espirituais (sobrenaturais), a Bíblia nos mostra nove dons de poder em I Coríntios 12.1-11:
1.1. Dom da Palavra da Sabedoria (Conselho sábio, orientação divina). Este dom está relacionado à busca da orientação divina, através dos conselhos e direção do Espírito Santo, afim de, atender e suprir as necessidades práticas do governo e administração da igreja. É válido salientar, que este dom nos ensina a crescer espiritualmente quando aplicamos nossos esforços ao estudo da Palavra e tomamos decisões que nos levam à maturidade (At 6.1-8).
1.2. Dom da Palavra do conhecimento (ou da ciência). Está ligado diretamente ao ensino da Palavra de Deus. Não é resultado do estudo por si só. Em sua aplicação, este dom pode incluir os segredos de Deus, os planos do adversário, bem como a revelação de fatos desconhecidos ou encobertos. Os exemplos bíblicos nos ajudarão a entender melhor a aplicação deste dom (At 5.3-10; 9.10-15; 10.17-21).
1.3. Dom da Fé (Crer na intervenção divina, no agir sobrenatural). Não se trata da fé salvífica, mas da fé milagrosa para uma situação ou oportunidade específica e especial. Quando colocamos essa fé em evidência, o sobrenatural acontece, milagres são realizados (Mt 17.20; Lc 17.6). Este dom possui em sua essência alguns elementos que podem ser facilmente percebidos: Oração fervorosa, alegria admirável e coragem incomum. Em suma, precisamos entender que a mão de Deus se move pela nossa fé e sem ela, é impossível alcançar o milagre (Mt 9.22; Mc 10.52; Lc 17.19; Hb 11.1).
1.4. Dons de curar (Sarar mágoas e doenças físicas e espirituais). Quando apresentamos os dons espirituais, descrevemos um a um, definindo as suas aplicações. Neste caso, não se trata de apenas um dom, mas de dons de curar que se evidenciam de diversas formas e aplicações. Estes dons manifestam-se em três dimensões: Deus cura soberanamente (Is 57.18,19; Jr 30.17 cf. 33.6), o agente é usado por Deus (At 3.6-12 cf. 19.11) e por último, o enfermo precisa crer plenamente na cura (At 14.8-10,15). A manifestação não segue ordem específica ou cronológica, mas de acordo com as ocasiões. É preciso afirmar que o Espírito Santo faz a obra, Jesus Cristo é o supremo médico, e em todas as ocasiões, a glória deve ser dada exclusivamente ao Senhor nosso Deus.
1.5. Dom de Operação de maravilhas (realização de grandes feitos, milagres). Poder divino sobrenatural capaz de alterar o curso da natureza. É possível relacionar esse dom à proteção, provisão, expulsão de demônios e alteração de circunstâncias ou juízo, em tudo, o grande responsável pela manifestação deste dom é o Espírito Santo (Mt 8.24-26; 14.15-21; Jo 2.7-10; At 16.16-18).
1.6. Dom de Profecia (Edificação, exortação e consolação). Em essência refere-se a várias mensagens espontâneas, inspiradas pelo Espírito Santo, numa linguagem simples e conhecida por aqueles que assim o escutam. O propósito principal é trazer edificação especialmente na fé, exortação para avançar na fidelidade e no amor, e por fim, trazer consolação que anima e revivifica a esperança em Deus (I Cor 14.3,12 cf. At 15.32). É através desse dom, que o Espírito ilumina o progresso do Reino de Deus, revela os segredos do coração e submete o pecador ao arrependimento e convicção (I Cor 14.24,25).
1.7. Dom de discernir espíritos (Percepção espiritual). Esse dom constitui uma percepção especial capaz de distinguir, reconhecer e identificar o espírito presente e atuante em determinada ambiente ou situação. O dom de discernir espíritos opera principalmente no alerta sobre atuação de demônios (espíritos enganadores) através de falsos ensinos, seitas e heresias que supostamente revelam as coisas divinas, além de imitarem a verdadeira manifestação dos dons espirituais (I Tm 4.1 cf. I Jo 4.1-3; Ef 4.14).
1.8. Dom de línguas (Falar em línguas nunca aprendidas). Para compreender de forma clara e objetiva essa manifestação sobrenatural do Espírito, analisemos os seguintes fatos: Essas línguas podem ser “de fogo” (espirituais), humanas (At 2.3-8) ou uma língua desconhecida (I Cor 14.2). Não existe técnica ou meio de aprendizado para a manifestação sobrenatural deste dom. Nem sempre é entendida, nem por quem fala ou por quem escuta (I Cor 14.14,16). Falar em línguas traz edificação pessoal, pois é resultado de uma mútua comunhão entre Deus e o homem através Espírito Santo. Aquele a quem Deus concedeu este dom deve orar ao Senhor para que possa interpretar, pois para trazer edificação a igreja, é preciso que haja interpretação (I Cor 14.10-13).
1.9. Interpretação de Línguas (Revelação divina e tradução compreensiva). Trata-se da capacidade concedida pelo Espírito Santo de interpretar e transmitir o significado de uma mensagem dada em línguas. Essa mensagem pode conter ensino que nos elevam à adoração e oração, ou pode ser uma profecia. O resultado sempre será a edificação da igreja, por isso, quem fala em línguas deve orar para que haja a interpretação (I Cor 14.13,26).
2. Como virtudes. Quanto à manifestação dos dons como virtudes, encontramos na Bíblia em Romanos 12.7,8 e I Coríntios 12.28: Dons de contribuição, de serviço, de exortação, de misericórdia, intercessão, louvor, entre outros (I Tm 2.1; Ef 6.18; Cl 4.12; Hb 2.12; 13.15). São dons ligados essencialmente aos ministérios.
DONS MINISTERIAIS: DISTINÇÃO E ATUAÇÃO
Em relação aos dons ministeriais, trata-se da prerrogativa e soberania de Deus em escolher alguns homens para determinadas funções. A Bíblia nos mostra em Efésios 4.11, cinco ministérios específicos:
Pastores. São aqueles recebem o chamado divino para “pastorear” as ovelhas do Senhor, ou seja, com o propósito pleno de “servir” a igreja do Senhor (I Pe 5.1-3 cf. Hb 13.17).
Evangelistas. Trata-se de um carisma específico, dado ao crente chamado para disseminar de forma extraordinária as Boas Novas, isto é, o Evangelho (II Tm 4.5; At 8.5,26-40; 21.8).
Mestres. São aqueles que se dedicam a ensinar a Palavra, não por habilidade natural, isto é, adquirida humanamente, mas por capacitação do Espírito Santo (Rm 12.7b; I Tm 4.13).
Profetas. São aqueles que falam por inspiração e revelação Divina. O ministério profético é diferente do dom de profecia porque não é esporádico e sim, um exercício diário. O crente recebe revelações do Senhor a qualquer hora, e, sobretudo, em momentos de oração e estudo da palavra (At 21.8-11).
Apóstolos. No sentido literal, a palavra “apóstolo”, significa: Enviado. Hoje, outro termo também é utilizado para designar aqueles que exercem este dom ministerial: Missionário (At 1.2; 4.33). Jesus é o nosso grande paradigma (Jo 20.21; Hb 3.1). Este ministério reúne em sua atuação, qualificações ligadas aos demais ministérios (I Tm 2.7).
A VERDADE PRÁTICA
Os dons promovem amadurecimento espiritual através da orientação divina, revela segredos, opera milagres e prodígios, evidencia curas milagrosas, edifica, exorta, consola, nos leva a adoração, expulsa demônios, reveste o crente de poder, nos conduz a presença de Deus em espírito e nos inspira a pregar o evangelho com ousadia e intrepidez.